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Comentário: “Na pele”

Diante a um mundo preconceituoso, é preciso sim falar sobre homossexualidade, obesidade e todo o preconceito por trás disso, conservadorismo familiar e religioso, a negatividade do machismo sobre os homens, a fragilidade dos relacionamentos, a dificuldade de assumir sua própria essência, entre outros. O musical “Na Pele” assume essa função. É incrível ir ao teatro e ver ele realizando sua função artística de comentar, criticar e refletir sobre a sociedade atual. Teatro é e sempre será um símbolo de liberdade e luta contra os diversos tipos de intolerância. 
Vou ser sincero, deixei o teatro em estase. Desde o começo, acompanho o projeto. Ver a falta de patrocínio, a busca por financiamento coletivo da população, da luta diária para contar essa história. 
A narrativa se baseia na história de Pedro e Jason, estudantes de um tradicional internato católico, e vivem a vida como um personagem, escondendo um grande segredo: eles são gays! Enquanto Pedro é um garoto mais “certinho”, que mesmo com todas as dúvidas existenciais, sabe quem é e o que quer, e como muitos, sofre com o medo de se assumir para família. Jason por sua vez é o playboy da escola, o garoto que todas as garotas querem, o orgulho dos pais, o extrovertido, mas que sabe de uma coisa, não quer se assumir, por medo de como as pessoas ao seu redor vão reagir, e pela pressão familiar exercida pelas relações de parentesco. Em paralelo à essa história de amor, temos as histórias coadjuvantes, que coloca em pauta o branqueamento cristão europeu, o preconceito com pessoas acima do peso, e  muitas mais. 
Ao me perguntar o por que essa história é importante?! Eu simplesmente digo, é um puta tapa na cara da sociedade e quebra de tabu, símbolo de representatividade de diversas minorias.  Nós temos sim que contar essa história, temos sim que mostrar beijos LGBT+, mostrar o que o machismo faz não só com as mulheres mas com os homens também,  mostrar o perigo de famílias conservadoras para o próprio bem estar social e mental do filho, mostrar que existe sim sexo, drogas, preconceito,  gravidez na adolescência. 
Em uma análise mais técnica, Diego Montez brilha realizando um Jason ousado e ao mesmo tempo cheio de dúvidas. Marya Bravo nos emociona ao demonstrar a preocupação de uma mãe coruja (considero inclusive o seu solo o ápice do musical). Maria Bia nos diverte e conquista nossos corações ao demonstrar uma mente aberta e ao mesmo tempo conselhos incríveis (e  vamos combinar né, que voz 👏🏻❤️). Ao mesmo tempo, do elenco feminino quem mais me impressionou foi Vânia Canto que demonstra com uma naturalidade os medos e anseios de uma pessoa acima do peso, nos faz rir, nos emociona. Agora quem reina nesse musical é Mateus Ribeiro. Depois de interpretar com maestria Peter Pan com excelência em técnica vocal, corporal e de interpretação, acreditava que seria muito difícil ele se superar em curto período, entretanto, ao realizar Pedro ele não só se superou, como acredito que seja o seu melhor trabalho. Mais uma vez mantém a excelência na técnica vocal e corporal, já em quesito de interpretação ele conseguiu ultrapassar essa barreira. Mateus entrega um Pedro emotivo, sensível, honesto. Ele transborda essas e outras características. Da uma interpretação verdadeira e cheia de realismo, deixando-nos arrepiados co começo ao fim e conseguindo fazer com que o público se identifique, se emocione, e principalmente, conquiste o espectador, permitindo com que ele torça por Pedro e tenha empatia. 
Os demais do elenco também se entregam aos personagens com qualidade. Com um cenário simples, a produção consegue nos levar para dentro daquele internato. E os figurinos  (vamos combinar né gente) estão maravilhosos!!!!
 Um musical 95% cantado, com músicas encantadoras, que trazem  verdade numa mistura de rock, pop. Ainda queria citar a coreografia sensível e ao mesmo tempo visualmente bonita.
Agora, na minha opinião, a coisa mais bonita e impactante desse musical é o apoio que ele necessitou e conseguiu. Feito  com um financiamento coletivo, a equipe  batalhou para conseguir dinheiro para contar essa história. E as pessoas.... contribuíram permitido essa importante temática chegar aos palcos paulistas. Esse apoio popular é a essência dessa peça, é a sua magnitude, é impressionante!!!
 Assistir ou não, ir prestigiar, nossas reações diz muito mais sobre  nós mesmos do que pensamos. 
Em resumo, “Na Pele” coloca com a urgência do momento, temas que precisam ser discutidos com uma qualidade musical e com um grande elenco cheio de talento.
E vc ainda não viu??? Não perca tempo, “Na pele” fica em cartaz até dia 20/12, com apresentações todas as quartas e quintas as 21:00, no Teatro Augusta. Preços de 30,00 a 60,00. Bora conferir?!

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